sábado, 3 de outubro de 2009

As Velhas Memórias do Mar - Peiote


Continuando as postagens sobre minhas incursões na roteirização de quadrinhos e sobre a revista Peiote, esta história foi, até agora, a mais diferente em que trabalhei. Primeiro porque ela é uma adaptação de um conto que co-escrevi juntamente com a escritora Bruna Torres - e até então nunca havia adaptado nenhuma outra história para os quadrinhos -, segundo porque é uma história mais séria, envolvendo mistérios e um pouco de terror, elementos fantásticos, por aí; e, terceiro, que, por conta das diferenças estéticas que expliquei antes, irei utilizar meu nome de verdade. Então não teremos "roteiro: Jaum", como nas outras histórias, e sim João Gonçalves.
Em As Velhas Memórias do Mar as ilustrações ficaram a cargo do Daniel, que conseguiu trazer alguns elementos interessantes para a história, com um traço que traz um pouco de expressionismo para a história, lembrando alguma coisa do quadrinho argentino. Lembro-me que o Daniel tinha um traço totalmente diferente, nunca me interessaria em chamá-lo para fazer este tipo de história, afinal, é importante encontrar sempre um estilo de desenho e um desenhista que tenha a ver com o que quer se contar, pois o estilo é um elemento importante da narrativa gráfica, segundo Will Eisner (e que concordo plenamente!). No entanto, nos últimos tempos ele começou a desenvolver esta nova técnica de desenho e arte-final que me chamou a atenção para esta história que estávamos escrevendo.
Outro elemento importante para a construção da história foi a Bruna. Apesar do conto original ter tido alguma interferência minha enquanto criação, tenho que dizer que ele pertence muito mais a ela. Foi mérito dela ter encontrado o ponto em que fechou todas as camadas da história de uma forma legível e extremamente artística. Este é o lado interessante de se produzir em parceria. Porém, ao mesmo tempo que vejo o conto como uma manifestação mais ligada à Bruna, a roteirização e adaptação estão mais ligadas a mim. Claro que ouve interferência da Bruna nesta parte também, mas foi mais ou menos, em termos de proporção, como a minha própria interferência na criação do conto.
Bem, pra finalizar gostaria de comentar agora um pouco sobre a questão de meu nome. A modificação nesta história está bastante ligada a uma organização mental de minha parte, pois prefiro trabalhar desta forma. Seria quase como se fosse um artista diferente e utilizando métodos muito diferentes de trabalho. Sempre gostei de direcionar o que faço com o momento criativo que estou, então se faço uma história sobre um tema x estou totalmente imerso naquele assunto, naquele cenário. Se mudo, minha vida muda totalmente para o próximo tema e por ai vai. Assim sendo, acho bastante natural esta opção por parte dos nomes. Outra coisa é que nos últimos tempos tenho me sentido muito mais como João Gonçalves do que como Jaum...

Abraços!

Jaum

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